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henrique
montagne


Invertido(s)

Desenho, pintura, colagem, história em quadrinhos, vídeo-instalação, objeto... Importa o meio ou o suporte da imagem? Para Henrique Montagne, importa primeiro fazer da imagem um gatilho ou um dispositivo estético/político contra a normatividade "moral" patriarcado - aquele mesmo que arregimentou ciências, religiões e filosofias para inventariar "desviados", "invertidos" ou "pervertidos". Mas, nas próprias escolhas técnicas e expressivas, Henrique já manipula grafias "limpas" e "sujas", com a consciência de que a fatura do traço (por si só) evoca sentidos submersos, subconscientes ou sub-reptícios.

Sob essa camada expressiva já semantizada, assoma a memória (sempre dúbia, inexata, coletiva), atravessada por imaginários disruptivos e imaginárias inconformadas, sempre em busca de fissuras, meandros, dobras, pregas ou brechas que todo exercício de poder e de saber totalitários dissimulam. A arte pode ser um apontamento de fendas, um dedo metido na ferida. Aqui, ela é.

Entre o cru e o cozido da cultura de massas, Henrique afronta paladares. Revisita os clichês sobre a masculinidade corrosiva enquanto, paradoxalmente, agencia essa mesma masculinidade como fetiche para certas camadas das chamadas sexualidades dissidentes. Inverte (ou perverte), na suposta inocência disneyficada da infância, os indices da injúria sobre gays e queers, instalando sua poética (e seus chifres profanos) num fio de navalha estendido (e tensionado) entre o kitsch e o pop, entre o "bom" e o "mau" gosto - pra fora e acima da manada, como diria Caetano.

Nesta nossa contemporaneidade hiperestetizada, em que os gostos estéticos e políticos se misturam na assombrosa disputa por identidades e representatividades outrora silenciáveis, Henrique Montagne produz des/enredos.


Profº Drº Afonso Medeiros
Texto para a
 exposição 'Suaves Brutalidades'
2023




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